Ainda não estou, mas quase. Já fui informada de que ainda este ano já não venho mais trabalhar. Dentro de 3 semanas fico de férias por tempo indeterminado.
A empresa encontra-se com graves problemas financeiros e tem de fazer cortes. Obviamente que eu, que estou aqui há 5 anos, sou a mais dispensável por trabalhar aqui há menos tempo. Não é uma notícia que me choque, todos os anos por esta altura recebo a mesma notícia, embora até agora, por um ou por outro motivo nunca se tenha concretizado. É tempo de mudança.
Ironicamente neste momento o meu marido encontra-se na mesma situação, embora o caso dele seja bem diferente. Como trabalha para o município, tendo o tempo do contrato dele terminado, é necessário abrir um concurso público para que ele possa continuar no cargo, com novas condições. E embora o concurso seja publico, à partida, tudo correrá pela melhor forma, pois todos critérios necessários correspondem ás suas características específicas.
O meu caso não é assim. E vivendo eu numa cidade pequena de interior, não será difícil encontrar trabalho mal remunerado, com pouco tempo livre e poucas regalias (descontos para segurança social e seguro de acidentes de trabalho). Difícil é encontrar emprego...
Talvez seja a altura ideal para repensar a minha vida...
Por um lado é bom deixar este emprego que não me satisfaz, que me deixa angustiada por passar 8 horas por dia num espaço minúsculo, sem ninguém para falar ou ouvir, sem praticamente nada para fazer, onde a minha única companhia é o computador.
Por outro lado a incerteza de ter como pagar as contas no final do mês.
Seria bom, para variar um pouco que conseguisse encontrar algo que gostasse de fazer.
Não vou dramatizar porque o que não tem solução, solucionado está. Mas não vou dizer que toda esta situação não me deixa nervosa, seria uma mentira.
Já me faz falta ter finalmente um tempo para mim, até porque todos os anos só tiro metade dos dias de férias, os outros trabalho-os por opção (como se a falta de dinheiro fosse uma opção...) e a perspectiva de ter umas semanas de férias não é de todo desagradável. Mas se por acaso não encontrar emprego em alguns meses, não sei como será. Até agora não tive dificuldade e sempre fiz o necessário, fosse o que fosse, não tenho medo de trabalhar. E neste momento conheço mais pessoas, tenho mais contactos a quem recorrer, mas a maldita "crise", a desculpa que o sistema encontrou de nos sugar até ao tutano, deixa todos num clima de insegurança. Não se criam novos empregos e ninguém deixa os seus com medo de não encontrar outro além desse. Os licenciados e outras pessoas com mais formação alinham-se agora junto à população menos formada nos cargos mais baixos. As máquinas substituem milhares de pessoas. As fábricas e empresas entram em falência. Um cenário desanimador, deprimente e desencorajador.
Entristece-me viver nesta era. Onde podíamos ser tão felizes num mundo onde temos infinitas possibilidades ao alcance de tão poucos de nós. Onde temos tanto de bom como de mau: arte, musica, cultura, património natural e edificado, pessoas com talentos extraordinários, outras com corações do tamanho do céu, informação ao alcance da ponta dos dedos, inventos que nos facilitam o dia-a-dia... crimes de todo o tipo, corrupção, controlo, poluição, desastres naturais, doenças, falta de bens essenciais como abrigo ou alimento... enfim, haveria muito para enumerar.
Agora a mulher do meu patrão vai ficar no meu lugar,e agora vou ter de a ensinar a trabalhar com o programa de facturação que usamos, porque mais ninguém sabe tão bem como eu como fazê-lo.
Hoje fiquei a saber que pretendem pagar-me as férias e os salários até ao final do ano o mais rapidamente possível. A indemnização (5 anos de trabalho), isso já é outra conversa, terá de ser fraccionado, ou vão me fazer uma proposta para me pagarem menos, mas mais rapidamente.
E ainda têm o desplante de se desculpar que outros patrões não têm estado a pagar indemnizações e que quase ninguém já recebe indemnização, ou seja muitos são os que ficam a dever (não seria a primeira vez que isso me acontecia). Claro, então agora é um favor que me fazem se me pagarem os meus direitos, e ainda tenho de dizer: -Obrigado!
Enquanto isso, o filho do meu patrão continua a receber 1000€ limpos por mês, mais 10€/dia "por fora"
para subsídio de refeições, já recebeu na totalidade os subsídios dele e eu tenho de esperar???
Claro! Eu posso receber o salário mínimo, o colega que estava antes dele podia receber 750€, mas ele tem de receber mais. Coitado, deve ter contas para pagar... eu até nem tenho, dão-me tudo de graça! (ironia das grandes).
Claro, é sempre o outro que tem de esperar...e pelo andar da carruagem a vontade é de que eu espere sentada pelos meus direitos. Mas muito se enganam porque eu agora não estou sozinha. No passado já me fizeram o mesmo, mas ainda há assuntos que quando não se resolvem a bem, resolvem-se a mal. E parece que é assim é que gostam.
Enquanto isto, os ricos continuam a encher os bolsos, na Madeira continua a dançar-se o samba e povo que outrora se libertou da miséria e da escravatura, volta e enredar-se nelas.
A televisão já não serve de entretenimento, as famílias de classe média são de novo pobres e o 25 de Abril... está longe, muito longe... foi há muitos anos atrás.
Ainda assim, eles que se lixem todos porque eu continuo feliz. Enquanto eu tiver a minha família para me abraçar no inicio e no final do dia, sou forte o suficiente para aguentar tudo! :)